Há quase dois anos, quando me preparava para fazer uma viagem, fiz uma consulta médica, pois, achava que precisava usar uma medicação para evitar uma trombose, afinal já havia tido uma e não havia sido esclarecido se eu realmente era trombofílica, ou não. Então o hematologista solicitou um Hemograma para liberar o uso do Clexane e aí apareceram os primeiros sinais de uma anemia e de uma leucopenia, que achamos que era algo momentâneo.
Pouco tempo depois, estava viajando, em São Paulo, e na véspera de voltar tive três desmaios seguidos, o que me fez adiar a viagem de volta. E aí fui extremamente criticada por todos, principalmente pela família, quando resolvi ficar mais um pouco lá, afinal tinha compromissos e deveria voltar no dia marcado, independente dos meus sintomas.
Com o tempo começou a se observar uma pancitopenia, que foi se arrastando, e como toda anemia, os sintomas são muito desagradáveis, um cansaço terrível, indisposição, fraqueza, muitas dores, principalmente nas pernas, falta de concentração, falta de memória, desmaios, entre outras. Quando minha aplasia já estava ficando grave, comecei um tratamento, para uma possível Anemia Megaloblástica (déficit de vit B), fiz o tratamento com injeções de vit B 12 e não tive resposta, depois se concluiu que se tratava de Anemia Aplástica ou Aplasia de Medula òssea.
Nesse período perdi o meu pai, foi uma dor muito grande, meu pai era uma pessoa muito sábia e talvez a única que me compreendesse, que valorizava os meus sintomas, o restante da família não acreditava que eu podia estar com uma patologia mais severa.
Fiz duas biópsias de medula, que indicaram que o caso era grave e se fazia necessário entrar com uma terapia mais agressiva. Quando me preparava para esse novo tratamento, já fazendo transfusões de sangue quinzenalmente, tive fortes dores abdominais e fui levada para emergência do Hospital Aliança, onde fiquei 48 h usando muito Dimorf (morfina) e depois de todos os exames de imagem e laboratoriais, descobriram que eu estava com um abdômen agudo hemorrágico e mesmo sem ter teto cirúrgico, não restava outra opção a não ser abrir, entrei para a sala de cirurgia sem saber se sairia, sabia que era grave. Chamaram o meu marido para avisar que era uma cirurgia de alto risco.
O que pensavam anteriormente ser um mioma pediculado, era na verdade um CA de ovário que já estava com 14 cm e foi retirado roto juntamente com o ovário e trompa, um struma ovarii maligno, um tipo de CA raro. Saí do centro cirúrgico para a UTI e a cada 12 horas que se passavam, todos comemoravam. Foram duas semanas no Hospital.
Para realizar a cirurgia precisei de 10 bolsas de concentrado de Hemácias e três grandes de Plaquetas, além de estímulos para Leucócitos. Quando estava na UTI solicitaram ao meu marido, 10 doadores de sangue e 3 de plaquetas para reposição e aí começou a dificuldade em encontrar, naquele momento, tantos doadores. De qualquer forma eu já havia recebido sangue, sem dificuldades, em outros momentos que havia precisado, e aí era mais que um compromisso, uma dívida conseguir os doadores, afinal o estoque do Banco de Sangue já estava baixando e não podia deixar faltar sangue para outros, assim como não faltou para mim. Quando tinha começado a fazer as transfusões que usava 1 bolsa de 15 em 15 dias, não me cobraram doadores, foi um momento bom do Banco de Sangue, onde estavam com um estoque bom. Desde que precisei usar as primeiras bolsas de sangue agradecia muito aos doadores, e a minha admiração por eles só aumentava.
Depois que saí do Hospital passei por muitos médicos, pois, cada médico que eu passava aqui em Salvador me pedia um tempo para estudar o meu caso, foi uma maratona, muitas discussões até que eles entraram em consenso que eu deveria fazer uma Tireoidectomia (cirurgia para a retirada da Tireóide) e depois alguns exames e a Radioiodo Terapia e, talvez, outra cirurgia oncológica, a Histerectomia Total.
Depois de fazer a Tireoidectomia Total aqui em Salvador, voltaram as discussões, se faria a Histerectomia radical antes ou depois da Radioiodo Terapia. Fui para São Paulo onde fiz novas consultas e decidiram por fazer logo, a Radioiodo Terapia.
Para fazer a Tireoidectomia me solicitaram mais 10 doadores de sangue. Fiz as transfusões necessárias para realizar o procedimento, antes e depois. E de lá para cá faço transfusões constantemente, 2 bolsas, em média a cada três semanas, além de receber estímulos frequentes para a medula. Depois de tudo que passei minha admiração pelos Doadores de Sangue ficou cada vez maior e cada vez que sabia que um amigo tinha ido fazer uma doação para mim, ficava mais contente. É uma sensação de gratidão indescritível!
Nesse meio tempo pensei em formar um grupo para encontrar possíveis doadores para pessoas que necessitavam de sangue, para que todos tivessem o sangue no momento que precisassem, assim como eu sempre tive. E então encontrei no Grupo de Farmacêuticos do Facebook, a Farmacêutica Priscila que pensa assim como eu. Pessoa mais empenhada nesse trabalho é impossível, então, me juntei a ela e ao Matheus, que são empenhados nas campanhas por uma saúde para todos, e decidimos formar o Grupo Amigos de Sangue. E o grupo, que iniciou com três administradores, (Priscila, Matheus e eu), já cresceu bastante e hoje tem sete administradores, todos comprometidos, e mais de 1100 membros.
Até hoje tenho que receber transfusões de sangue com frequência e gosto muito do trabalho do Grupo Amigos de Sangue, pois o nosso objetivo é conseguir salvar vidas buscando doadores para aqueles que necessitam.
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Assunto: Depoimento De: Fernanda Guerra Data: 28/12/2012